“60% dos jovens de periferia
sem antecedentes criminais já sofreram violência policial;
a cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negras; nas universidades brasileiras apenas dois dos alunos são negros; a cada quatro horas, um jovem negro morre violentamente
em São Paulo”.
“Um monte de famílias tinham ficado sem casa, por causa das enchentes e
alguns incêndios criminosos. A rapaziada do Governo não brincava; não tem onde
morar? Manda pra Cidade de Deus. Lá não tinha luz, não tinha asfalto, não tinha
ônibus, mas pro Governo e os ricos não importava nosso problema; como eu disse,
a Cidade de Deus fica muito longe do cartão postal do Rio de Janeiro”.
Citações de Mano Brown, em mais uma de suas composições, e Buscapé,
protagonista do filme “Cidade de Deus”, respectivamente. Ambos referem-se aos
negros na sociedade brasileira e por mais que na segunda citação não haja uma
referência direta à etnia negra, é só assistirmos ao filme e logo teremos a
informação. Ou, quem sabe, analisarmos o seguinte fato: segundo uma pesquisa
publicada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), em 16 de dezembro de 2008, considerando
a distribuição de acordo com o chefe da família, tem-se que 40,1% dessas casas são chefiadas por homens
negros, 26% por mulheres negras, 21,3% por homens brancos e 11,7% por mulheres
brancas. De acordo com o estudo, essa distribuição mostra a predominância da
população negra em favelas, o que reforça a sua maior vulnerabilidade social.
Outro ponto analisado, referente à condição de habitação da população, é o número muito grande de
pessoas morando na mesma residência. Os
valores são considerados baixos (5% em 2007) e vêm se reduzindo (eram 10% em
1993). Se apenas 3% dos domicílios chefiados por brancos se encontram nessa
situação, entre as famílias com chefes negros o percentual
mais que dobra, chegando a 7%. No
que diz respeito ao acesso aos serviços básicos, a diferença etnológica é
clara, somente 96,7% das famílias negras têm acesso aos serviços enquanto 99%
da população branca contam com eles. No quesito esgoto sanitário a diferença é
ainda mais visível, 76% das famílias negras contam com esse serviço, enquanto
quase mais 15% da população branca contam com eles, totalizando 88%.
O Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 – Racismo, pobreza e
violência. Divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), o relatório contou com a participação de mais de 30 pesquisadores e fez
um levantamento nas áreas de desenvolvimento humano, saúde, renda, educação,
emprego, habitação e violência; com isso pôde concluir que os negros
encontram-se em situação desfavorável no país.
Segundo o relatório:
Na política: há uma sub-representação deles nos setores de
decisão: poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, porém o fato se repete em
quaisquer áreas do setor político brasileiro; nos
meios de comunicação de massa, sindicatos e associações profissionais,
movimentos sociais e organizações não governamentais. Não por coincidência,
pois os fatores riqueza e política estão atrelados.
Na renda: 64,1% dos pobres são negros.
Apesar de os negros representarem 44,7% da população brasileira, sua
participação chega a 70% entre os 10% mais pobres e entre os 10% mais ricos,
eles não passam de 16%.
Na expectativa de vida: Em 2000, a expectativa de vida
da população branca era de 71,5 anos, enquanto que a dos negros era de 66,2
anos. No mesmo período, a taxa de mortalidade infantil entre as crianças negras
ainda era 66% maior que entre as crianças brancas (22,93).
No mercado de
trabalho: Em 2003, o salário dos homens brancos era 113% maior que o dos homens
negros. O das mulheres brancas, 84% superior ao das negras.
Na educação: Em 2000, as mulheres brancas eram mais bem
preparadas para o trabalho: 12% terminaram a faculdade, enquanto as negras com
esse ensino eram 3,1%. A proporção de brancos
com nível universitário passou de 1,8% em 1960 para 11,8% em 2000; o de negros
subiu de 0,13% para 2,9%. Em 1940, não sabiam ler nem escrever 47,2% dos
brancos e 74,2% dos negros. Em 2000, 8,3% dos brancos com mais de 15 anos eram analfabetos, enquanto
entre os negros esse percentual era de 18,7% (125% superior). Em 2003,
das crianças que não frequentavam a escola, 67,9% eram negras.
Mesmo após tanto tempo da abolição da escravatura no Brasil, culminada em
13 de maio de 1888, me parece que a situação dos negros continua a mesma no
país. As favelas surgiram pela liberação dos escravos e vinda de negros
africanos ao país e sem terem onde morar construíam suas casas em terrenos
baldios, deixando décadas depois para mais de milhões de herdeiros; é daí que
surge a maior parte da população das comunidades ser negras.
Como consequência disso, o negro é desprivilegiado sim. Pensemos todos
juntos: o negro mora na favela, tem uma renda baixa para sobreviver, tem menos
acesso a uma escola de qualidade e a um ensino decente para ingressar numa
faculdade bacana. Ganha menor salário do que o colega branco, simplesmente por
ser negro; encontra-se em menor percentual de todos os setores, quais são
possíveis fazer alguma pesquisa de quantidade. E não me venha você com aquele
discursinho clichê de que “quando a gente quer, a gente vai atrás”. Responda-me:
se o cara é desvalorizado e não tem chance nenhuma na vida simplesmente por ser
negro e por morar numa comunidade (ou não), como é que ele vai ter motivação
pra alguma coisa?
O Brasil vive uma pseudodemocracia racial desde a época onde negros eram
escravos e brancos os patrões; escondem os dados para não manchar a imagem de “Brasil,
um país de todos”. Todos quem? Ricos e brancos.
E você ainda está naquele discursinho antiquado de que não é a favor das
cotas raciais? Por favor..
“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não
na alma e no corpo, a sombra ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro.”
Gilberto Freyre, em Casa-grande & Senzala.
Parabéns Vitória...
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